Outra noite qualquer, com nada pra fazer (conseqüência da vida de desempregada), assisti, depois de não sei quantos anos, Tela Quente. Um filme brasileiro, que confesso que nunca tinha ouvido falar: O filho Eterno.
A sinopse é mais ou menos assim: a história de um moço, que se torna pai e o filho nasce com Síndrome de Down. E ele, não consegue amar o filho. Ele não consegue criar laços com aquela criança que não era o que ele tinha planejado, que não era a sua expectativa quando tanto sonhou em ser pai. E o roteiro segue no drama dos anos mostrando tantas e tantas situações e o sofrimento desse pai.
Sem me alongar no filme (que vale assistir), me pegou um dialogo específico onde o pai, desesperado por não conseguir encontrar um meio de lidar com a situação, diz para a sua mulher: “ Não foi isso que eu sonhei! Não era isso que imaginei!”.
Opa! De repente o filme não era mais sobre síndrome de down, o filme era sobre expectativas. E parei pra pensar sobre expectativas e filhos.
Ter um filho é um desejo muito louco. É pensar que você ta colocando no mundo um pedacinho seu. É ser responsável por uma vida (pela vida inteira). É ser responsável por criar um ser humano para o mundo.
Dizer que quando pensamos sobre esse “grande feito”, não criamos expectativas, na minha opinião, seria uma grande mentira. Mesmo os menos sonhadores, mesmo os mais racionais, os mais emocionalmente resolvidos ou os mais desligados. Não tem como não ter expectativa.
É ter um filho. E isso é grande. E as expectativas também.
Ser mãe, ser pai, é muito foda. Dá trabalho, cansa, irrita, tira do sério, não te deixa dormir e tem dias que te faz querer fugir.
Claro que todo mundo sabe que no fim tudo compensa. O menor sorriso, a risada mais boba ou mais uma descoberta, e a gente já tá lá, se sentindo a pessoa mais feliz do mundo. Daquele jeito que o coração parece que esquenta.
Mas voltando a “tão grandiosa expectativa”. Arrisco dizer que é ela mesma que tantas vezes faz a gente questionar se estamos mesmo fazendo certo? Ou melhor, se estamos errando?
Eu, sonhei ser mãe. Sonhei por muito tempo Não foi simples, não foi natural, não acontecia e virou uma longa jornada. Não conseguir engravidar me fez sonhar mais e mais sobre “esse filho” (que na época eu imaginava como filha). Depois veio a gravidez, a felicidade, os planos e a imaginação que voa.
Quem é pai ou mãe, não pode negar que nesses 9 meses, a gente sonha. A gente imagina os menores dos mais pequenos momentos. Quando a gente diz “ será que ele vai….?”, pronto! Já ta lá uma imagem criada na cabeça.
E me pegou mesmo, foi pensar exatamente na expectativa destes tão pequenos momentos, que são o dia a dia de verdade.
Eu imaginava meu filho amando musica. Claro, ia ser muito legal ele curtir algo que eu amo. E ele curte, mas é do jeito dele. Na hora dele. No tempo dele. E mesmo sabendo disso, me pego as vezes pensando que eu podia estar fazendo mais pra desenvolver isso nele. Porque acho que isso é “importante”. E por que? Porque mesmo ele gostando sim de musica, projetei lá atrás em algum momento que ele ia ser alucinado como eu.
Esse semestre, ele teve uma atividade na escola e aprendeu sobre a vida e as musicas do Lulu Santos. E descobri que ele tinha aprendido a cantar (inteirinha), “Como uma onda”. Não era mais nenhuma musica da Galinha Pintadinha, ou das eternas cantigas infantis. Era musica de verdade. Coitado dele. Pedia pra ele cantar umas 3 vezes por dia. Pedia pra ele cantar pra cada pessoa que a gente encontrava. Entrava no carro e só colocava Lulu Santos. Tava lá, a “louca da musica”, querendo fazer aparecer “o louco da musica”.
Pequeno exemplo, de tantos que parei pra pensar no tal pai do filme, que não tinha sonhado com um filho com síndrome de down.
Em época de tantos movimentos que, em resumo, lutam para que a sociedade saiba respeitar e aceitar as pessoas como elas são, me pareceu válido dividir a reflexão.
Desde então, parei de, o tempo todo, colocar musica pro meu filho. Coloco musica pra mim, e ele me vê feliz. Agora ele, de vez em quando, pede pra eu colocar e quando aprende alguma nova diz que quer me ensinar porque sabe que eu “adoooro música”.
Isso, não é o que sonhei. É muito mais do que eu podia imaginar.
Parei de escolher a roupa que ele vai vestir pra ter tudo combinando (porque sempre achei o máximo essas crianças todas estilosinhas). Agora ele vai lá e escolhe o que ele chama de “a roupa mais linda”. Outro dia, foi um meião do Mengão, com uma bota tipo galocha azul, bermuda, camiseta, boné, óculos escuros e uma almofadinha que ele tem desde bebe pendurada no pescoço.
Nada do que sonhei. Olhei pra ele e pensei: “Caraca, meu filho ta style”. É muito mais do que eu podia imaginar.
Não é sobre deixar meu filho ser quem ele é. É sobre deixar ele descobrir quem ele é, e me mostrar.
Ele não é como eu sonhei. Ele está aprendendo a ser ele. E todo dia ele me mostra que é muito mais do que eu podia imaginar.
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